terça-feira, 23 de junho de 2009

23

Os ouvidos se tornaram mais sensíveis a medida que a intimidade com o instrumento se fez. O timbre agora é macio. A densidade da madeira salta ao ar a medida que os dedos tocam as cordas e montam os acordes bem escolhidos para uma melodia simples. E eu poderia ficar ali, congelado, com os músculos tranquilizados por um sentimento posto ao mundo pela música, a mesma música que ouvi ainda em São Paulo enquanto escrevia os primeiros textos naquele escritório repleto de filmes, CDs e livros. Meu mundo!

sábado, 20 de junho de 2009

Nove

São 9 meses nessa terra. Engordei, emagreci, engordei e assim continuo acima do meu peso ideal. Será que existe um ideal? Elas vieram e foram, e assim como as poucas estrofes e pequeninas musicas que surgiram, pouco deixaram para acrescentar. A pessoalidade dos textos continua como sempre e os dias que passam como um ônibus atrasado estão cada vez mais cheios de responsabilidades, prazos, metas e faróis de atendimento. Prestes ao enfarto, sem unhas para roer, ele dorme, descansa dessa vez para mais tarde voltar ao copo de lágrimas.

segunda-feira, 2 de março de 2009

O whisky aguou

De repente vejo as fotos que são sempre dois casais e você. Impossível descrever o que senti. O susto, a dose de adrenalina no sangue, a pressão que parecia subir e despencar entre os intervalos do ritmo cardíaco, me fizeram lembrar dos seus gostos, dos gostos que alguma vez foram os nossos. Detalhes do corpo ressuscitaram na memória como se estivesse ao seu lado, como se pudesse sentir a textura da areia em sua pele sempre tão delicada e bem cuidada. Não fossem os outros que passaram, talvez conquistasse à memória o perfume, talvez recordasse das brincadeiras e manias tolas do casal jovem, cujos sonhos simples eram alicerçados nas conquistas repletas de emoções, mas os questionamentos começaram com a geografia, as milhagens e as oportunidades de um mundo, que enfim se apresentou com as portas abertas. O whisky aguou com o passar do tempo obedecendo a ordem natural das coisas, enquanto São Luís, cercada de água por todos os lados, me apresenta aos poucos seu magnetismo místico.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Prazeres

Como se não fosse mais possivel desejar, como se toda a superficialidade dos relacionamentos tivessem solucionado o problema, como se fosse capaz de retomar o desbotado e desfazer os retalhos. Foram minutos de espera em um posto de gasolina qualquer que trouxeram ao final de semana a companhia de Prazeres. Mesmo que curta, mesmo que inquieta, mesmo que com poucas palavras. Havia um sinal no lado direito do seu rosto e um pouco acima do lábio, mas ele era de metal. Sem problemas. Seja bem vinda de volta a São Luís.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Remo

Sim de pés descalços na areia, vestes dobradas à altura dos joelhos, passos em direção ao mar. Desfaz-se o nó que insistia em prender o barco, agora tomado emprestado para uma volta, apenas um remo e eu na proa a guiar. Não fora preciso muito tempo, somente o momento da alva para deixar o comando e sentir-nos levados à sublime deriva. Nela, é como nada mais existisse, nem pessoas e nem distância, somente uma brisa e o sereno balanço do mar. Não cedamos às intempéries mundana. Sou à inexorabilidade terrena! Pois anunciariam a hora do regresso para uma volta cujo único propósito é não findar. Continuemos na mesma direção! É que assim o mundo passará lá fora, aliviando a dor que nos sufoca e corrompe os nossos vinte e poucos anos ...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Boa companhia

Eu passo na sua casa, Bom acho que tudo bem então, Que tal as 20:00, Excelente! De repente estou dentro de um carro com um novo alguém. Respira rapidamente para não perder o fio da meada, não mostrar o nervosismo e diminuir as chances de aproximação. Daquele jeito despojado, sem muita preocupação com o que os outros pensam, ela veste um jeans justo, sandálias baixas e uma blusa solta e estampada. Com o rosto limpo, o cabelo simplesmente seco e o perfume fresco na quantidade exata para aquela noite. Ela me fez uma boa companhia. Somos jovens em partes e as vezes adultos, outras amantes e outras amigos, somos olhares e muitas vezes sorrisos. Foi ela quem me reencontrou, fui eu quem dei espaço e não houve nada além disso a não ser por um jantar quase só de água e suco de abacaxi. Discutimos sobre teorias, filmes, livros, sobre comer, rezar e amar. Falamos também da possibilidade de sermos cubuca. São Luís é provinciana como dissera ou será a necessidade de mudança que a faz pensar em partir? Sinceramente gostaria que ela tomasse a iniciativa mais uma vez.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Otorrinolaringologista

5:20. Os olhos pesados. Estico o braço e ligo o abajour que por algum motivo me incomodou durante o sono por estar desligado e depois ligado. Respiro e inspiro e testo o ouvido que confirma mais um dia com apenas o lado esquerdo. Lavo o rosto, vejo o projeto de barba que se lança ao mundo. Nenhuma música na cabeça, também pudera, a cera é tanta que provavelmente não deixaria minha audição óssea funcionar. É fato, tenho que ir a um médico. Trabalho até a hora do almoço e durante esse tempo consigo uma consulta no Planta Tower. Abro a porta e me sento dizendo: Faz quanto para me levar no Renascença, Vinte e sete reais, Tudo isso, retruco, Vinte e três retruca ele, Vinte para facilitar o troco, Venceu, Ganhei! Durante o caminho fico pensando como seria o médico. Seria um daqueles velhos frios e já cansados do teatro de palco cúbico, ou será um bela donzela daquelas que te faz confirmar o arquétipo de estudantes de medicina. Talvez eu tenha imaginado outras propostas, mas confesso que o tipo simpático e aparentemente normal não me acontecera nem por um segundo se quer. Otorrinolaringologista. Ao atravessar a avenida Colares Moreira fugindo da garoa fina me lembro que durante a infância em uma aula de ciência descobri que queria ser otorrinolaringologista, imaginando o quanto de coisas legais que uma pessoa com uma profissão desse tamanho seria capaz de fazer. Eu tinha 7 anos e uma mente criativa de uma criança de 7 anos. A barba coçou e me trouxe de volta aos 22 de frente a recepcionista que me dizia, Nome completo e identidade. Aguardei e conclui o prognóstico. Era só cera.


domingo, 8 de fevereiro de 2009

Caranguejeiro

É domingo pé de cachimbo. 10:30 as necessidades do corpo me faz acordar. Penso duas ou três vezes antes de abrir os olhos, mas a luz é como o pensamento e transpassa todos os obstáculos que sujeitosamente colocamos. O novo dia começa com o presente gosto da noite passada. Dá-lhe pasta de dente e cerdas. Banho! O ouvido ainda alterado. Pouco a pouco a casa começa a tomar vida e como praxe o follow up matutino. Piadas, apelidos e risadas, muitas risadas, risadas de aprovação, risadas de nervosismo, risadas de cegos que somos, risadas que relevam e risadas que escondem. O sol aparece e o buraco no estômago aumenta a cada minuto, carne de sol, arroz de cuxá ou caranguejo. O carro fica em um restaurante e o almoço é em outro. Demos sorte economizando R$2,00 que irão para a caixinha do carnaval. São Luís continua com as surpresas e o chama maré ficará para mais tarde. Pela primeira vez depois de voltar de casa me sinto caranguejeiro, arranco as patas com as mãos, esmago contra na mesa, sugo a carne e quando ela aparece sinto o gosto da vitória.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Novos amigos não tão novos assim

É fato. Estou longe de casa, longe de quem amo, longe de um conforto que só reconheceria mais cedo se mais cedo tivesse saido de lá, e assim como naqueles primeiros três meses em Vitória, presto contas à minha não tão leve consciência através desse blog. O quarto parece o mesmo, talvez pelo fato do morador, em teoria, ser o mesmo. A cortina é bem diferente, pouco tem a ver com aquela gótica black-out que podeira me esconder toda luz de todo o dia. As paixões seguem como sempre: com ínico, meio e fim, muito parecidas com aquelas pequenas músicas que colam na cabeça e ficam nos torturando o dia todo sem deixar que se esqueça por um minuto o que aconteceu, e quando terminam, se é que terminam, se é que se consegue lembrar do final delas, parecem não ter adicionado nada de novo. Felizmente as amizades são novas. Não pelas pessoas, mas pelo o que eu agora conheço e aprendi a conviver com elas, pela novas aflições e desafios vencidos juntos. E então, quando canso de mim e desses devaneios tolos, fujo para uma conversa descontraida e "traga mais uma cerveja chefia". Decontraida por sermos simplesmente os mesmo velhos e novos e amigos que agora velejam em São Luís. É fato, o vento nos trouxe. Estamos longe de casa.