terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Prazeres

Como se não fosse mais possivel desejar, como se toda a superficialidade dos relacionamentos tivessem solucionado o problema, como se fosse capaz de retomar o desbotado e desfazer os retalhos. Foram minutos de espera em um posto de gasolina qualquer que trouxeram ao final de semana a companhia de Prazeres. Mesmo que curta, mesmo que inquieta, mesmo que com poucas palavras. Havia um sinal no lado direito do seu rosto e um pouco acima do lábio, mas ele era de metal. Sem problemas. Seja bem vinda de volta a São Luís.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Remo

Sim de pés descalços na areia, vestes dobradas à altura dos joelhos, passos em direção ao mar. Desfaz-se o nó que insistia em prender o barco, agora tomado emprestado para uma volta, apenas um remo e eu na proa a guiar. Não fora preciso muito tempo, somente o momento da alva para deixar o comando e sentir-nos levados à sublime deriva. Nela, é como nada mais existisse, nem pessoas e nem distância, somente uma brisa e o sereno balanço do mar. Não cedamos às intempéries mundana. Sou à inexorabilidade terrena! Pois anunciariam a hora do regresso para uma volta cujo único propósito é não findar. Continuemos na mesma direção! É que assim o mundo passará lá fora, aliviando a dor que nos sufoca e corrompe os nossos vinte e poucos anos ...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Boa companhia

Eu passo na sua casa, Bom acho que tudo bem então, Que tal as 20:00, Excelente! De repente estou dentro de um carro com um novo alguém. Respira rapidamente para não perder o fio da meada, não mostrar o nervosismo e diminuir as chances de aproximação. Daquele jeito despojado, sem muita preocupação com o que os outros pensam, ela veste um jeans justo, sandálias baixas e uma blusa solta e estampada. Com o rosto limpo, o cabelo simplesmente seco e o perfume fresco na quantidade exata para aquela noite. Ela me fez uma boa companhia. Somos jovens em partes e as vezes adultos, outras amantes e outras amigos, somos olhares e muitas vezes sorrisos. Foi ela quem me reencontrou, fui eu quem dei espaço e não houve nada além disso a não ser por um jantar quase só de água e suco de abacaxi. Discutimos sobre teorias, filmes, livros, sobre comer, rezar e amar. Falamos também da possibilidade de sermos cubuca. São Luís é provinciana como dissera ou será a necessidade de mudança que a faz pensar em partir? Sinceramente gostaria que ela tomasse a iniciativa mais uma vez.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Otorrinolaringologista

5:20. Os olhos pesados. Estico o braço e ligo o abajour que por algum motivo me incomodou durante o sono por estar desligado e depois ligado. Respiro e inspiro e testo o ouvido que confirma mais um dia com apenas o lado esquerdo. Lavo o rosto, vejo o projeto de barba que se lança ao mundo. Nenhuma música na cabeça, também pudera, a cera é tanta que provavelmente não deixaria minha audição óssea funcionar. É fato, tenho que ir a um médico. Trabalho até a hora do almoço e durante esse tempo consigo uma consulta no Planta Tower. Abro a porta e me sento dizendo: Faz quanto para me levar no Renascença, Vinte e sete reais, Tudo isso, retruco, Vinte e três retruca ele, Vinte para facilitar o troco, Venceu, Ganhei! Durante o caminho fico pensando como seria o médico. Seria um daqueles velhos frios e já cansados do teatro de palco cúbico, ou será um bela donzela daquelas que te faz confirmar o arquétipo de estudantes de medicina. Talvez eu tenha imaginado outras propostas, mas confesso que o tipo simpático e aparentemente normal não me acontecera nem por um segundo se quer. Otorrinolaringologista. Ao atravessar a avenida Colares Moreira fugindo da garoa fina me lembro que durante a infância em uma aula de ciência descobri que queria ser otorrinolaringologista, imaginando o quanto de coisas legais que uma pessoa com uma profissão desse tamanho seria capaz de fazer. Eu tinha 7 anos e uma mente criativa de uma criança de 7 anos. A barba coçou e me trouxe de volta aos 22 de frente a recepcionista que me dizia, Nome completo e identidade. Aguardei e conclui o prognóstico. Era só cera.


domingo, 8 de fevereiro de 2009

Caranguejeiro

É domingo pé de cachimbo. 10:30 as necessidades do corpo me faz acordar. Penso duas ou três vezes antes de abrir os olhos, mas a luz é como o pensamento e transpassa todos os obstáculos que sujeitosamente colocamos. O novo dia começa com o presente gosto da noite passada. Dá-lhe pasta de dente e cerdas. Banho! O ouvido ainda alterado. Pouco a pouco a casa começa a tomar vida e como praxe o follow up matutino. Piadas, apelidos e risadas, muitas risadas, risadas de aprovação, risadas de nervosismo, risadas de cegos que somos, risadas que relevam e risadas que escondem. O sol aparece e o buraco no estômago aumenta a cada minuto, carne de sol, arroz de cuxá ou caranguejo. O carro fica em um restaurante e o almoço é em outro. Demos sorte economizando R$2,00 que irão para a caixinha do carnaval. São Luís continua com as surpresas e o chama maré ficará para mais tarde. Pela primeira vez depois de voltar de casa me sinto caranguejeiro, arranco as patas com as mãos, esmago contra na mesa, sugo a carne e quando ela aparece sinto o gosto da vitória.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Novos amigos não tão novos assim

É fato. Estou longe de casa, longe de quem amo, longe de um conforto que só reconheceria mais cedo se mais cedo tivesse saido de lá, e assim como naqueles primeiros três meses em Vitória, presto contas à minha não tão leve consciência através desse blog. O quarto parece o mesmo, talvez pelo fato do morador, em teoria, ser o mesmo. A cortina é bem diferente, pouco tem a ver com aquela gótica black-out que podeira me esconder toda luz de todo o dia. As paixões seguem como sempre: com ínico, meio e fim, muito parecidas com aquelas pequenas músicas que colam na cabeça e ficam nos torturando o dia todo sem deixar que se esqueça por um minuto o que aconteceu, e quando terminam, se é que terminam, se é que se consegue lembrar do final delas, parecem não ter adicionado nada de novo. Felizmente as amizades são novas. Não pelas pessoas, mas pelo o que eu agora conheço e aprendi a conviver com elas, pela novas aflições e desafios vencidos juntos. E então, quando canso de mim e desses devaneios tolos, fujo para uma conversa descontraida e "traga mais uma cerveja chefia". Decontraida por sermos simplesmente os mesmo velhos e novos e amigos que agora velejam em São Luís. É fato, o vento nos trouxe. Estamos longe de casa.