5:20. Os olhos pesados. Estico o braço e ligo o abajour que por algum motivo me incomodou durante o sono por estar desligado e depois ligado. Respiro e inspiro e testo o ouvido que confirma mais um dia com apenas o lado esquerdo. Lavo o rosto, vejo o projeto de barba que se lança ao mundo. Nenhuma música na cabeça, também pudera, a cera é tanta que provavelmente não deixaria minha audição óssea funcionar. É fato, tenho que ir a um médico. Trabalho até a hora do almoço e durante esse tempo consigo uma consulta no Planta Tower. Abro a porta e me sento dizendo: Faz quanto para me levar no Renascença, Vinte e sete reais, Tudo isso, retruco, Vinte e três retruca ele, Vinte para facilitar o troco, Venceu, Ganhei! Durante o caminho fico pensando como seria o médico. Seria um daqueles velhos frios e já cansados do teatro de palco cúbico, ou será um bela donzela daquelas que te faz confirmar o arquétipo de estudantes de medicina. Talvez eu tenha imaginado outras propostas, mas confesso que o tipo simpático e aparentemente normal não me acontecera nem por um segundo se quer. Otorrinolaringologista. Ao atravessar a avenida Colares Moreira fugindo da garoa fina me lembro que durante a infância em uma aula de ciência descobri que queria ser otorrinolaringologista, imaginando o quanto de coisas legais que uma pessoa com uma profissão desse tamanho seria capaz de fazer. Eu tinha 7 anos e uma mente criativa de uma criança de 7 anos. A barba coçou e me trouxe de volta aos 22 de frente a recepcionista que me dizia, Nome completo e identidade. Aguardei e conclui o prognóstico. Era só cera.

2 comentários:
bem a minha cara essa história de cera.
"olha meu all star novo, tem cadarço rosa"
"olha meu all star, tem lama nele"
"Talvez eu tenha imaginado outras propostas, mas confesso que o tipo simpático e aparentemente normal não me acontecera nem por um segundo se quer."
adorei sua descrição!
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